domingo, 27 de setembro de 2009

ENTREVISTA COM O EX-PREFEITO JOSÉ LOPES



Por José Mário, Xavier e Silva Júnior

J.U – Como foi sua infância e sua trajetória estudantil? J. L – A gente morava no sítio Caraúba. Viemos pra cá em 60 e estudei no Alfredo Simonetti, fui terminar o 5º ano primário em Mossoró e em 65 eu entrei no seminário em Mossoró. O reitor era Dom Zé Freire e no ano seguinte Josafá foi meu disciplinário, é como se fosse um vice-reitor. Naquela época tinha também o padre Zé Bezerra na igreja de São José, quer dizer duas pessoas de Upanema ligadas ao seminário. Deixei o seminário e fui fazer engenharia em Natal, isso em 76 foi quando eu fui candidato, eu não esperava ser candidato, quando eu fui ver já era candidato sem saber, e depois quando eu me encontrei com Antonio de Elizeu ele me disse que eu tinha sido prefeito por causa dele, ele foi quem fez toda a arrumação. Eu ainda não era formado. Inclusive eu resisti um pouquinho e cheguei a um ponto que não dava mais pra desistir. Eu me sentiria até culpado se eu tivesse desistido. Meu partido era o Arena e a oposição era o MDB. Eu ganhei e era prefeito aqui e estudava em Natal. Só vinha aqui quando precisava, a maioria do tempo era lá. Aqui papai ficava à frente e meu vice que era Nem.

J.U – Cite algumas ações do senhor a frente do executivo municipal. J. L – Eu trouxe sinal da TV de Fortaleza e a repetidora era perto do Alto de Luzia Maia. O sinal foi trazido na época da copa do mundo. Coloquei a televisão na praça e foi uma festa. A TELERN foi no meu tempo também. Na época em que papai foi prefeito ele construiu uma caixa d’água na várzea e depois na minha época eu trouxe a CAERN. Trouxe também o ensino de 2º grau. Trazia os professores de Mossoró. Muitos professores que eram daqui e que moravam em Mossoró. Paulo de Maria Romana foi nessa época, Etinho. A caminhonete da prefeitura era disponível para pegar esse pessoal em Mossoró. Teve pouco calçamento, porque não existia verba para calçamento. Fiz algumas escolas, fiz uma escola que fica ali quando vai pra Mossoró, ficava perto de Branco, era no baixa do Jucá. O primeiro ônibus foi no meu mandato, comprei um ônibus para levar os professores e estudantes.

J.U – E a Bandeira do Município? J.L – Quem fez todo o desenho da bandeira de Upanema foi Carlito Meireles no meu mandato. Ele foi prefeito de Francisco Dantas. Eu acho que ele fez a bandeira de quase todos os municípios do Rio Grande do Norte. Eu fazia engenharia junto com ele. Ele uma vez soltou até uma piada pra mim dizendo que merecia até um título de cidadão upanemense. Eu contei toda a história de Upanema a ele e daí ele desenhou.

J.U – Quais eram as principais dificuldades na administração da Upanema daquela época? J. L – Naquele tempo a verba que existia era só Fundo de Participação dos Municípios, e ele não podia ser aplicado no que quisesse. Ele só podia ser para investimento, não podia pagar a funcionário, era difícil. Eram poucos funcionários e geralmente os salários a gente atrasava. Só botava em dia de janeiro pra fevereiro que aumentava o repasse e no restante do ano eram dois, três meses atrasados, porque não dava. Praticamente não tinha verba nenhuma. Hoje tem muito apoio do governo. Naquela época para se conseguir uma coisa era muito difícil.

J.U – Como se deu a sua sucessão? J. L – Foram três candidatos, Luiz Cândido, Maria José e Antenor. Minha candidata era Maria José e quem ganhou foi o finado Luiz Cândido. Rosvaldo renunciou no último dia para apoiar Luiz Cândido. Era Luiz Cândido Apoiado por Valério e Elizeu veio de última hora e apoiou Luiz Cândido. Na minha campanha Luiz Cândido me apoiou, Luiz Cândido era rompido com o pessoal de Elizeu.

J.U – Naquela época já se falava na BR 110? J. L – Falava e prometiam. Foi naquela época que fizeram cerca de 1 Km de asfalto na saída de Mossoró mas se eu não me engano aquele quilômetro foi para testar um material, tipo de asfalto.

J.U – Como era o relacionamento com a Câmara de Vereadores? J. L – Eu perdi a presidência da Câmara. Eram vereadores: Antenor, Luiz Vitorino, Edinar e Zé Fernandes, esses quatro eram adversários. E os meus eram: Airton Marques, Antonio Pinto e não me recordo o outro, mas sei que o presidente era Zé Fernandes.O relacionamento hoje é diferente. Não vou dizer que era fácil porque a política era muito acirrada. Não tinha muitos recursos e você sabe como é cada um defende sua bandeira.

J.U – Como o senhor conseguiu a máquina perfuratriz? J. L –Uma máquina dessa só tinha em Mossoró que inclusive foi uma briga por influência política porque Van Rosado queria, e foi um negócio que ninguém esperava. O próprio governador que era Lavoisier Maia se surpreendeu porque Upanema era um município tão pequeno e tinha uma máquina perfuratriz. Foi uma pessoa de Upanema que morava em Brasília, Nonato sobrinho de Anterim, ele era funcionário do INCRA e a gente sabia que ele morava em Brasília, nós fomos para Brasília e falamos com ele e disse que não sabia de nada e ia ver se conseguia e com dois ou três dias conseguiu o dinheiro para comprar. Depois ele ligou pra mim e disse que eu me movimentasse para comprar a máquina porque estava tendo uma ingerência política e estava sujeito a perder esse dinheiro, foi quando a gente começou a lutar mesmo pela máquina.

J.U – Upanema foi um dos municípios pioneiros com máquinas perfuratriz. Desde que Upanema tem máquina e com a realidade dos poços que tem em Upanema, o senhor não acha que são poucos não? J. L – Não posso responder porque eu não sei quantos poços Upanema possui hoje. Na minha época eu acho que deixei entre trinta e cinqüenta. Era uma disputa muito grande pela máquina.

J.U – O senhor lembra quantas viagens foram feitas a Brasília? J. L – Eu acho que foram duas ou três. Sei que fui atrás dessa máquina e outra fui ver se conseguia uma quadra e não consegui. Era muito difícil ir a Brasília.

J.U – Porque abandonou a vida pública? J.L – Porque eu terminei engenharia e queria seguir a carreira. No tempo que eu terminei o negócio tava ruim pra engenheiro e eu já estava empregado no INSS e eu não quis sair. Eu pensei depois que terminasse o mandato ir para engenharia, mas não conseguia locação do estado, e eu não ia deixar o certo pelo duvidoso e continuei no INSS até hoje. Eu nunca me acostumei com a política. Eu não sou muito chegado a cargo de prefeito não.

J.U – Depois que o senhor deixou a vida pública, apareceu convites para voltar? J.L – Não. É tanto que eu nunca me filiei em partido nenhum, eu me afastei mesmo e vi que eu não tinha vocação política. Não penso em voltar à política, eu só penso em não tirar meu título de Upanema. Eu não quero perder o vínculo com a cidade.

J.U – Como o senhor tem visto Upanema ultimamente? J.L – Upanema hoje é outra cidade. A cidade está muito organizada, está muito bonita, pode chegar qualquer pessoa de outra cidade que Upanema não faz vergonha. Inclusive tem coisas como o teatro, que não é em todo canto que tem. Faltar algo nunca deixa de faltar. Eu acho que o que aqui tem que melhorar é a educação e a saúde. Era para se investir muito em educação que tudo aumentava muito mais. Porque sempre vai ficar numa dependência. Tem que dar educação ao povo para não depender dos outros.

J.U – Se alguém da sua família recebesse um convite para ser candidato teria o seu apoio? J.L – Claro que teria. Inclusive quando Carlinhos foi candidato a vereador naquela vez, eu achei melhor ele ir do que o filho dele, porque um menino que tava terminando uma faculdade e vir ser vereador em Upanema, eu acho que profissionalmente ele se acaba. Futuramente ele vai ficar numa dependência, e graças a Deus Carlinhos tomou a frente e esbarrou, porque o menino é político. No momento foi à melhor idéia porque se não o menino entrava.

J.U – Então no futuro pode ter um Lopes na política de Upanema? J.L – Ele é popular e tem o sangue político.

J.U – Upanema hoje tem uma oposição e uma situação bem polarizada. O que o senhor acha disso? J.L – É o seguinte, eu não posso dizer que eu vivencio isso daí porque eu não moro aqui. O que eu vejo mais é o Jornal de Upanema, leio o blog Upanema News, eu sei mais pelos outros, eu não vivencio. Quando eu chego aqui que vou ali em Nil(churrascaria) e vejo. Agora eu acho que não está havendo essa política toda como antigamente. Quando eu chegava aqui que eu ia ali num barzinho, chegava três, quatro pessoas para captar qualquer coisa, eu notava aquilo ali, era um negócio acirrado mesmo. Eu acho que todo mundo não pode ser a favor de um prefeito, mas tem muita coisa que atrapalha. Onde tem oposição acirrada demais atrapalha. Eu não vejo uma oposição acirrada, ao contrário eu vejo mais um tipo de gozação e não de atrapalhar.

J.U – O senhor acha que em 2012 Upanema tem condição de ter três candidatos? J.L – Eu não sei. Eu acho que ainda está muito cedo para saber disso, acho que não está nada definido ainda. A administração de Maristela está começando agora, vamos ver como é que vai.

J.U – Como era o salário do prefeito e do vice? J.L – Era uma besteira. Inclusive eu preferia ganhar pelo INSS, que era melhor do que o e prefeito. Aqui eu ganhava uma representação, deveria ser um salário mínimo. Depois o ordenado daqui melhorou e eu preferi ganhar o daqui e cancelei o de lá.

J.U – Mensagem final. J.L – O que eu posso dizer é que todos se engajem para o desenvolvimento do município e vamos pra frente. Acho que Upanema hoje é um dos melhores municípios dessa região. Aqui a gente ver prosperidade. Temos uma barragem dessa que não está ainda utilizada, mas futuramente vai ser. A gente ver que Assu tem uma potência por causa da barragem. Se Deus quiser vamos chegar a isso.

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