domingo, 7 de junho de 2009

MATÉRIA DE CAPA DA ÚLTIMA EDIÇÃO DO JORNAL DE UPANEMA

::Por José Wilson

APROVEITAMENTO DAS ÁGUAS DA BARRAGEM DE UMARI, QUAL A ESTRATÉGIA?

Muito se falou, de bem, do governo anterior, quando da construção da barragem de Umari. Seria a redenção desta região, pois o uso das águas da barragem traria fartura alimentar e excedente de produção que gerariam negócios e, portanto, desenvolvimento. Seria mais dinheiro no bolso dos produtores de frutas, de grãos, de animais, de peixe e grande expectativa da prática do turismo, melhor qualidade de vida. Nada disso aconteceu.

Muito se fala, de mal, do governo atual, pois a barragem está construída e fora a produção de peixe, pífia em relação ao volume de água da barragem, nada aconteceu. Sem investimentos na distribuição da água e nos sistemas produtivos, realmente, não esperamos que aconteça alguma coisa.

Troca de acusações a parte: “tem projeto, não tem projeto, há interesse, não há interesse”, o fato é que não podemos ficar de braços cruzados e nem apenas fazendo análise de quem é o erro ou talvez esperando um outro governo pra resolver a situação. É preciso abrir um debate popular, técnico, real e urgente sobre como aproveitar essas águas. Nesse caso, cabem algumas observações importantes para não cometermos os mesmos erros de aproveitamento de águas, cometidos em projetos próximos de nós, como o Distrito irrigado de Paus dos Ferros, do Assu e outros.

1º) Qual o custo operacional dos sistemas irrigados implantados nos Distritos de Irrigação do nosso estado e de estados vizinhos, principalmente com energia?

A várzea de Upanema possui pelo menos 1.500 ha de terra agricultável abaixo da barragem, com grande possibilidade de usar a diferença de nível (entre a água da barragem e o nível das terras) na distribuição da água e acionamento dos sistemas de irrigação, sem usar energia.

Existem alguns exemplos deste tipo de projeto no país, um deles no município de Livramento de Nossa Senhora/BA. É claro que é preciso um grande trabalho de engenharia para conceber um projeto desta natureza, mas a ciência está aí pra isso, além do que, com o alto custo da energia elétrica a tendência é que os projetos que usam esta ferramenta, não dêem certo. É preciso alertar ainda que pensar em levar água bombeada para outras áreas de nível mais elevado, também é direcionar o projeto ao fracasso.

2º) Com os investimentos como se daria o acesso as áreas e ao financiamento das estruturas de produção necessárias para impulsionar os empreendimentos, tais como: sistemas de irrigação; viveiro de mudas, maquinário e materiais, insumos e outros?

Na implantação da maioria dos Distritos de irrigação públicos, ocorre paralelamente, a desapropriação e o loteamento das terras através da venda. No caso de Upanema, considerando o tamanho das áreas e a própria dependência de sobrevivência da maioria dos seus proprietários, isso seria inconcebível, porém, correrá o risco permanente da especulação fundiária, por parte de empresas ou pessoas particulares com maior acesso ao capital, podendo surgir um desequilíbrio ocupacional e social, caso as vendas de terras se confirmem.

3º) Como definir a culturas adequadas para realizar investimento e que alternativas de mercado podem-se garantir para a produção dessas áreas?

Olhando a localização do nosso município, a estrutura logística local e os exemplos maus sucedidos, é importante orientar os produtores sobre os riscos de cada cultura para uma decisão de investimento. Do contrário podemos repetir erros já vivenciados por alguns, como produzir sem as condições estruturais suficiente para atender as exigências do mercado e optar por produtos com definição de preço totalmente distante da realidade dos nossos produtores. Para isso é preciso envolver instituições de crédito e de análise de mercado, para minimizar possíveis erros nas decisões da produção.

Mas quando dizemos para não cruzar os braços a quem nos referimos? Referimos-nos a sociedade de uma forma geral, aos interessados pelo setor agropecuário e, principalmente, a Prefeitura Municipal, pois a sensibilização do governo e dos parlamentares estaduais depende muito da importância dada pelo executivo local a proposta. É preciso divulgar intensamente que este projeto é importante para o município, é preciso fazer um investimento inicial em estudos e no projeto técnico, para buscar os recursos de investimento com uma proposta na mão. A elaboração deste projeto está perfeitamente ao alcance do executivo, tanto olhando pelo lado do custo do projeto, quanto pela capacidade de fomentar a proposta.

Para reforçar esta “campanha” Upanema tem diversos profissionais nas diversas áreas que podem contribuir com a discussão e elaboração deste projeto, isso desde os profissionais que atuam no município, como os profissionais que atuam em outros estados, nas diferentes instituições e empresas, entre eles diversos Doutores e Mestres, que tenho certeza não se negaram em dar sua parcela de contribuição.

Desenvolver o município a partir do investimento em agropecuária é uma decisão também política e não ocorrerá enquanto este setor não for tratado como prioridade.

Nenhum comentário: