domingo, 19 de agosto de 2007

90 agricultores produzem hortaliças sem agrotóxico

Muito se discute a produção de hortaliças e outros produtos “in natura” sem o uso de agrotóxico no mundo. É cientificamente comprovado o benefício à saúde humana e à preservação do meio. Porém, as dificuldades dos produtores de hortaliças para superar as pragas sem usar químicos têm sido cada vez maiores.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), com sede em Assu, aposta nessa possibilidade. Desenvolve com noventa famílias o projeto Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), através do qual ensina uma nova tecnologia de produção de hortaliças, associada com a criação de aves e peixes que não se utiliza de agrotóxico.
A idéia original não é exatamente PAIS. Inicialmente, o projeto se chamava Mandala, por ter a forma de estrela. Quando o inventor saiu do Sebrae, passou a cobrar royalties na Justiça pela sua criação. O Sebrae, que já dominava a tecnologia, inclusive, já havia adotado outros mecanismos, decidiu expandir a idéia pelo Nordeste.
No Rio Grande do Norte, o gerente regional do Sebrae em Assu, Fernando Antônio de Sá Leitão Morais, diz que os levantamentos técnicos para implantar as primeiras unidades no Estado começaram em outubro de 2006. O passo seguinte foi cadastrar os agricultores que tivessem uma área possível de implantação do PAIS (precisa ter água, terra e isolação ideal).
O PAIS é uma grande cisterna, com várias hortas em forma ao redor. A cisterna é cercada. Dentro, são criados peixes e dentro do cercado galinhas e patos. Nas hortas, são cultivados alface, coentro, tomate, cebolinha, entre outras hortaliças, sem usar agrotóxico. Cada unidade ocupa cerca de cinco mil metros quadrados, que são muito bem aproveitados. O melhor de tudo é que as famílias que estão participando da experiência não precisam gastar; apenas oferecer voluntariamente a mão-de-obra e colher os frutos. Ao todo, são gastos cerca de R$ 7 mil, sendo que 75% vêm da Fundação do Banco do Brasil, Ministério da Integração Nacional e Sebrae, que conta com apoio das Prefeituras. O Sebrae contrata especialistas para implantar, ensinar a produzir e comercializar.
Um dos 90 chefes de família beneficiado pelo projeto é Francisco de Assis, do assentamento Palheiros I, no município de Assu. Além de alface, coentro, cebola, ele também produz cenoura de ótima qualidade. Francisco de Assis diz que, inicialmente, apenas complementava a renda familiar, mas agora ele percebeu a possibilidade de conseguir até o sustento. Não descarta a idéia de investir na ampliação de sua unidade.
Inicialmente, foram selecionados pequenos agricultores dos municípios de Upanema, Assu, Carnaubais, Itajá, Ipanguaçu e Afonso Bezerra. Nesses municípios, já foram construídas 41 unidades. A meta é construir noventa até o final do ano. A Fundação do Banco do Brasil, diante dos resultados satisfatórios, já demonstrou interesse em ampliar a cota de patrocínio a fundo perdido no projeto.
Além da unidade, os agricultores também são capacitados para produzir, processar e comercializar. Das 41 já montadas, ao menos 35 já estão produzindo plenamente. Porém, o resultado com as vendas gerenciadas pelos produtores ainda não está satisfatório. Segundo Fernando Antônio, a figura do atravessador desvaloriza um produto nobre.

Concluída nova etapa de treinamentoFoi concluída ontem outra etapa de treinamento dos agricultores envolvidos no projeto. O trabalho foi desenvolvido no assentamento Palheiros I, em Assu, que formou a segunda turma de capacitação teórico-prática em agroecologia para os integrantes do projeto PAIS.
A capacitação discute conceitos e práticas relacionadas ao “fazer” agroecológico nas unidades produtivas das agricultoras e agricultores familiares, unindo o conhecimento tecnológico e o saber popular sobre o ecossistema, apresentando uma proposta de modelo de agricultura socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.Outro fator importante na agroecologia é o de segurança alimentar, que vem do entendimento de uma organização social mais adequada, na qual seja priorizada a sustentabilidade das famílias que moram no campo, garantindo o acesso à terra para plantar através de um modelo agrícola adequado que garanta o apoio à agricultura diversificada, produção de alimentos limpos e de qualidade.
“A agroecologia deve ser vista como um instrumento da transformação social e também uma quebra de paradigmas”, diz Fernando de Sá Leitão, gestor do projeto PAIS, destacando que esse tipo de modelo agrícola envolve interações positivas de cooperação, de complementaridade e de interdependência.
Fonte: Jornal de Fato

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