quarta-feira, 13 de maio de 2009

ENTREVISTA COM MAGNA SOELMA










Jornal de Upanema - Você começou seus estudos aqui mesmo em Upanema?
Magna- Estudei a pré-escola no Calazans, depois estudei no Alfredo, voltei pro Calazans. Minha formação foi toda na escola estadual, em Upanema, chamava-se CNEC. Eu fiz até a oitava série na CNEC e depois fiz o ensino médio em Mossoró no colégio Dom Bosco.
J.U. – Porque a escolha do curso de agronomia?
Magna - Quando eu terminei o ensino médio eu fiz o vestibular para direito e agronomia em Mossoró e medicina em Natal, três áreas totalmente diferentes. Passei apenas em agronomia. Se me perguntar o que me despertou? Na realidade não foi o que me atraiu em agronomia, foi à oportunidade que surgiu no momento. Eu não queria ficar parada e nos primeiros anos desse curso tem uma formação básica, é muito cálculo, muita física, muita química, então isso também já preparatório para fazer um outro vestibular se eu quisesse. Só que depois que eu comecei o curso, comecei a gostar, me interessei e comecei a trabalhar logo com pesquisa, no terceiro semestre, fui sendo monitora, fui pegando bolsa de iniciação científica, o que já foi direcionando meu trabalho para uma área de pesquisa.
A cada dia que passa as pessoas tem mais dúvidas sobre qual curso escolher porque tem tanto curso diferente, quando você tem dezessete anos você não sabe de nada. A maioria não sabe o que quer da sua vida, por isso que muitos entram, sai, voltam para o curso, até definir exatamente o que quer, porque quando se tem dezessete anos não se tem noção do que é o mundo e a maioria não sabe.
J.U. – Em seguida você entrou logo no mestrado e doutorado?
Magna - Entrei na ESAM, hoje UFERSA, em 94 e me formei em 98. Quando eu saí fui fazer mestrado em Campina Grande, fiz mestrado em meteorologia, que lá em Mossoró eu já estava com a bolsa de iniciação científica em agrometeorologia, relações clima/planta. Quando eu fui fazer mestrado eu escolhi essa área. Inscrevi-me em várias universidades do Brasil, na UNESP, em Viçosa, em Mossoró e Campina Grande. Em todas eu fui selecionada para fazer o mestrado só que a única que tinha bolsa era em Campina Grande na Paraíba. São coisas que vão surgindo, vão definindo onde você está indo, porque eu precisava da bolsa, eu não ia para São Paulo ou minas sem a bolsa. Então fui para Campina Grande que tinha bolsa e fiz o mestrado em meteorologia com foco em agrometeorologia, de 1999 a 2001. Eu acho que o mestrado foi mais pesado do que o doutorado. Quando vai fazer um mestrado você faz logo um teste de inglês. No primeiro mês faz um teste de inglês e se não passar vai pagar uma disciplina de inglês. Quando a EMBRAPA foi criada há 34 anos muita gente saiu, foi enviada pra outro país pra aprender inglês, porque o que a gente faz aqui é pra ser difundido, e a gente tem que aprender também computação, e a língua internacional é inglês, tem saber falar inglês.
Então no mestrado eu já comecei a freqüentar a EMBRAPA, porque minha dissertação, meu trabalho de campo foi feito na EMBRAPA em Petrolina, e nessa oportunidade eu soube do concurso da EMBRAPA em 2001 e fiz o concurso. Quando eu fiz o concurso eu ainda estava concluindo o mestrado. Esse concurso tinha validade de dois anos e foi prorrogado por mais dois e nesse período eu conclui o mestrado e fui pro doutorado. Quando eu estava no segundo ano do doutorado eu fui chamada na EMBRAPA. Parei o curso de doutorado e fui trabalhar. Depois a EMBRAPA me liberou para que eu concluísse meu doutorado. Conclui o doutorado, também em Campina Grande, em recursos naturais com á área agrometeorologia. Desde a graduação que venho caminhando nesta área, daí fiz o mestrado e doutorado também nesta área de agrometeorologia.
J.U. - Essa área é voltada para que, trazendo para a nossa realidade?
Magna - Estuda as relações entre clima/planta, na prática, por exemplo, quais as temperaturas ótimas para as plantas se desenvolverem? A gente trabalha muito com zoneamento agrícola, então em que áreas é possível plantar determinadas espécies? Qual a melhor época para se plantar, definições de risco climático? Se você plantar em quinze de janeiro qual o risco que você corre na colheita do milho por exemplo. Tem alguns trabalhos nesta linha, mas também tem outras áreas. Como a gente na EMBRAPA tem muito foco com irrigação, a gente trabalha muito com determinação da demanda hídrica, que é quantidade de água que as plantas precisam para produzir, quanto de água vai ser irrigado por dia na goiabeira, de acordo com o clima, de acordo com planta, a gente determina. Então isso lá em Petrolina é muito forte porque a área irrigada lá é muito importante, tem muita estrutura.
J.U. - A gente sabe que no passado se dizia, por exemplo, que uva não dava no Nordeste, só no Sul. Hoje isso mudou. Seu trabalho tem a ver com isso?
Magna – Exatamente. Aqui na residência dos meus pais, por exemplo, tem uva que eu trouxe e já estão produzindo. Então a gente tem visto que isso é possível. Primeiro faz um zoneamento agrícola para uva. Ai diz que o Rio Grande do Norte só dá uva se for irrigado. Então o que acontece, pode-se produzir irrigada, mas isso já dá uma abertura para um estudo de genética, de melhoramento, para se desenvolver plantas resistentes a essa condição. Então são estudos que não existem sozinhos, existem em coerência com outras áreas como a irrigação, a genética. A área em que eu trabalho é uma área complementar, não é uma área específica de fins. No caso do experimento da goiabeira foi feito fora da EMBRAPA, foi um pequeno produtor lá do projeto irrigação, mas na EMBRAPA também tem áreas experimentais, a gente também utiliza nossos projetos. Dependendo do tipo de projeto é que a gente faz parceria com o produtor para fazer estes estudos na sua área. Entramos em contato com o produtor, perguntamos se ele tem interesse que a gente instale o nosso experimento lá, faça alternativa de trabalho lá, se a demanda dele precisa daquela resposta, porque não adianta a gente chegar lá na área e instalar um monte de coisas e fazer os experimentos se o produtor não tiver esse interesse. Se não for demanda dele, não adianta a gente fazer, tem que o produtor querer.
J.U. - Agronomia é um curso que você recomenda?
Magna - Eu recomendo, até porque dentro da agronomia existem várias áreas, você pode sair de agronomia e pode trabalhar com desenhos, arquitetura, voltados para agricultura, pode trabalhar com biologia molecular, com climatologia, com genética, com administração de empresas, então são várias áreas que dentro da agronomia você pode direcionar para onde você quer fazer porque na verdade são vários cursos, depende de onde você quer se especializar. Pode também ser professor. O professor universitário hoje é uma profissão que muita gente quer porque o salário está muito bom. Dentro da agronomia você pode se formar, mestrado, doutorado, se especializar e escolher a disciplina que quiser ensinar.
J.U. – Sabemos que quem trabalhou com a agricultura irrigada em Upanema até hoje não prosperou. Você tem uma opinião formada sobre o porquê isso ocorre?
Magna- Não tenho conhecimento das pessoas que produzem aqui. Só tenho conhecimento de Ferrari e não sei dizer por que a gente não pode pegar um produtor especificamente pra generalizar. Mas eu acho que precisa se organizar, por exemplo, uva, se a gente plantar uva aqui, eu acho que tem plena condição de vender bem, por que o mercado é aqui perto, Natal, Fortaleza, Mossoró, com certeza se aqui tivesse uva ia ser absorvida essa produção. Então, eu acho que é falta de organização dos produtores por que tem muita água aqui, a barragem tai cheia, então é uma falta de organização, tanto dos produtores como também do poder público porque não adianta ter aquela água lá parada se não fizer um canal de irrigação, separar uma área, lotear, então é falta de organização, eu acho.
J.U. - Poucos municípios têm um potencial tão grande para desenvolver a agricultura como Upanema com a barragem de Umari. Quando você olha e ver esse desperdício o que você se sente?
Magna- Eu não acompanho muito de perto porque não estou aqui, mas, eu acho que ela foi construída porque tem um objetivo, não sei se o tempo não permitiu ainda chegar a esse objetivo, mas não creio que foi construída para nada, só para armazenar água e evaporar três mil milímetros de água por ano. Então não foi construída só para armazenar água pra perder para a evaporação e para o rio encher. Eu acho que tem muita condição de fazer um projeto bem estruturado e mudar muitas coisas. Pode se começar pelo pequeno produtor, plantar alface, coentro, são coisas que precisam de água e isso ai começa com uma pequena plantação e depois se torna grande. Petrolina é um exemplo de sucesso nessa área, existe o lago de Sobradinho e a partir dela são distribuídos canais por várias áreas para produzir. Lá começou com iniciativa do poder público, os projetos são públicos, grandes áreas são loteadas, eu não sei como é a distribuição, se são vendidos os lotes ou entra num processo de seleção para agrônomos, produtores, mas a partir daí eles começam a plantar, claro tem que ter o apoio de agrônomos, técnicos, porque ninguém consegue ir sozinho, tem que ter um conhecimento se não vai acabar quebrando.
Quando eu passo e vejo os assentamentos eu penso que não adianta ter um terreno e não ter um projeto, um acompanhamento de agrônomos. Tendo um projeto o banco financia, o banco tem dinheiro para financiar um projeto bem organizado, com acompanhamento de um agrônomo, uma coisa que o banco acredite que vai funcionar então o banco financia. Também não adianta financiar a produção se não em como a água chegar lá.
J.U – Como funciona a EMBRAPA?
Magna – A EMBRAPA é a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. Existem 42 unidades em todo o Brasil e essas unidades são distribuídas e chamadas de centros de produtos e centros eco-regionais. O centro de produtos, por exemplo, trabalha com produtos específicos, a EMBRAPA soja, trabalha só com soja, a EMBRAPA algodão trabalha só com algodão, EMBRAPA milho e sordo, trabalha só com milho e sordo, são centros de produtos. Tem também os centros eco-regionais que trabalham com grandes regiões. Tem a Amazônia oriental, Amazônia ocidental, semi-árido, serrado. Então são diferentes tipos de unidades que tem na EMBRAPA. Além disso, a EMBRAPA tem escritórios na França, Alemanha, Estados Unidos e há pouco mais de um ano na África. Então, a gente está fazendo pesquisas aqui no Brasil que está sendo exportado. O grande sucesso da atividade agropecuária aqui no Brasil tem contribuição da EMBRAPA, isso é reconhecido por todos.
J.U. – Você tem uma previsão sobre a vinda da EMBRAPA para o Rio Grande do Norte?
Magna – Agora com o Plano de Aceleração do Crescimento - PAC, do governo federal, foram criadas mais duas unidades da EMBRAPA em estados que não tinham. Foram Tocantins e Maranhão. Eu creio que somente o Rio Grande do Norte não tem uma unidade da EMBRAPA, não tenho certeza. Mas, o Rio Grande do Norte é um dos estados que não tem unidade da EMBRAPA. Fortaleza tem duas e aqui do lado não tem nenhuma. Pensava-se em criar um escritório da EMBRAPA em Mossoró, porque lá na EMPARN já existem cerca de 9 funcionários da EMBRAPA lá. Alguns políticos do Rio Grande do Norte começaram a pressionar o diretor da EMBRAPA para criar uma unidade aqui no Rio Grande do Norte mas que eu saiba não tem nada definido.
J.U – Falta força política?
Magna – Falta, mas não sei se é só isso.
J.U. – Havendo uma oportunidade de vir um escritório da EMBRAPA para o Rio Grande do Norte, acredito que Mossoró é uma área muito propícia, porque fica entre a barragem do vale do Açu, a barragem de Upanema e a barragem de Apodi. Então colocada na UFERSA ficaria bem próximo.
Magna – O reitor da UFERSA já conversou com o diretor da EMBRAPA dizendo que seria interessante colocar lá. Só que não é fácil, não é muito rápido assim não. Então eu acho que se fosse colocar seria em Mossoró, porque já existe uma conversa sobre isso. Já começaram a falar isso tanto a nível Mossoró com o reitor, EMBRAPA, diretoria e deputados do Estado. Já existe uma certa iniciativa pra se instalar uma escritório em Mossoró. Realmente ficaria na UFERSA. Nada definido, só conversa.
J.U – Você falou que a EMBRAPA hoje já tem escritórios fora do Brasil. Você tem participado de algum trabalho fora do Brasil?
Magna - Não. A minha colega de sala já viajou uma vez pro Haiti e pra África, principalmente pra difundir tecnologias de captação de água de chuva, confecção de cisternas, de como adaptar cisterna, de como captar mais água no solo, diferentes maneiras de como fazer o preparo do terreno. Então, eles tem feito muito esses trabalhos, vai para Haiti e para a África pra isso. Um dos grandes interesses do governo Lula agora é que a EMBRAPA atue mais forte na África, a EMBRAPA semi-árido principalmente, porque a gente está no semi-árido e temos tecnologia mais avançadas pro semi-árido, e parte da África é um país muito seco, com poucas chuvas. Então a intenção dessa aproximação com a África é exatamente essa, é levar a tecnologia de convivência com o semi árido do Brasil para África. Não é vender tecnologia, é difundir as tecnologias. Vem muita gente lá na EMBRAPA e vai ao campo ver como são as tecnologias de captação de água, o armazenamento de água. Daí depois vai uma equipe da EMBRAPA pra lá e tudo isso é organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Agricultura, então tudo junto organizam essas missões, para o pessoal vir e conhecer aqui, e para os pesquisadores da EMBRAPA irem pra lá difundir as tecnologias e implantar essa tecnologia lá. É pra essas pessoas começarem a conhecer essas tecnologias e depois, digamos, começarem a se virar sozinhas. Mas eu particularmente não viajei para fora do Brasil.
J.U. – Então como foi sua viagem para Austrália?
Magna – Não foi pelo escritório da Embrapa não. Fui participar de um congresso.
J.U. – A África parece muito com o semi-árido já na Austrália é diferente. O que você viu de interessante na Austrália?
Magna – A Austrália é um país imenso, como o Brasil, e tem áreas de diferentes tipos. Lá tem áreas com florestas, tem montanhas com gelo, cantos totalmente desertos, secos, então é um país bem diferente e que tem vários aspectos bem regionais. Por ser uma ilha bem grande e isolada, eles sofrem muito com influências de correntes marítimas. Uma coisa que me surpreendeu muito foi quando eu estava indo de Sidney para Adelaide e você olha pra baixo e eles não tem vegetação nativa, é só área degradada, área sem vegetação, só para cultivo. Eu via lá de cima tempestades de areia, não tinha planta, é um solo todo nu, salinizado e eles também tem um grande problema com água, falta muita água.
J.U. – Tem algum livro publicado?
Magna. – Na Embrapa nós temos que fazer publicações. Então a gente participa com capítulos em livros mas nunca escrevi um livro sozinha. O trabalho que eu faço coloco lá para tentar passar para as pessoas , não só eu como também todos os colegas da Embrapa. Então eu e mais uns colegas editamos um livro sobre potencialidade da água de chuva no semi-árido. É um livro interessante que pode contribuir muito para os assentados principalmente, fala como captar água, como trabalhar melhor o solo para conviver no período seco. Este livro é vendido no site da Embrapa e também está disponível para download. Além desse que organizamos também temos vários outros capítulos já publicados em outros livros.
J.U. – Há uma probabilidade de um dia você chegar à área política aqui em Upanema?
Magna – Não, nenhuma. Penso em ficar fora disso. Adoro a cidade, o que Jorge fez aqui nesses oito anos, mudou completamente a noção que a gente tinha de Upanema. Uns parentes de painho várias vezes vinham aqui e diziam que não mudava nada, era a mesma coisa, o centro, então eu acho que depois que Jorge entrou na prefeitura deu uma virada, tudo funciona, a cidade está crescendo, temos mais vontade de vir aqui, tenho orgulho de dizer que sou de Upanema. Tem gente que vem aqui e acha a cidade linda, organizada, tudo bem cuidado, então eu acho que Jorge fez isso, ele fez essa mudança e era também uma pessoa que quando chegou à gente pensava que não, porque tinha a vida dele lá, a empresa do pai dele. Quando ele entrou na política aqui a gente não sabia o que ia acontecer e deu tudo certo. Eu particularmente não tenho intenção nenhuma de me envolver na política além de vir votar.
J.U. – O que falta melhorar em Upanema?
Magna – eu acho que a gente está no rumo certo. Entre outros pontos já estamos substituindo as casas de taipas por casas de alvenarias, sei que já tem um projeto de saneamento da cidade, um tratamento de água que não jogar água suja no rio. Eu acho que deveria pensar em aproveitar a água da barragem para projetos de irrigação, então poderia partir daí e pra isso a secretaria de agricultura tem que está muito presente.
J.U. - Mensagens para os leitores:
Magna – Só dizer que fico muito satisfeita de ver essa mudança na cidade, eu estou sempre aqui quando posso. Fico muito satisfeita em ver o grande número de aprovados no vestibular, acho que isso muda muito a nossa cidade, está mudando a formação de nossos estudantes, o pensamento vai ser outro e essas pessoas têm vontade de contribuir de alguma forma direta ou indiretamente. Então é isso, algumas coisas precisam ser ajustadas, mas estamos no rumo certo. As pessoas de Upanema gostam muito daqui e isso é bom. Essas pessoas gostam daqui e vendem a cidade. Acho que as pessoas devem continuar investindo nos estudos porque é a base de tudo, é sua formação.
Publicado no Jornal de Upanema

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