Entrevista concedida a José Mario e Silva Júnior para o Jornal de Upanema no ano de 2004
JU: O senhor nasceu aqui em Upanema? 
CHICO BEATO: Sim, eu morava ali na Bo’água.
JU: Como o senhor soube da convocação para a Segunda Guerra Mundial?
CHICO BEATO: Era sorteado, mas eu não sabia. Então um dia, quando eu vim para a rua (zona urbana), Raimundo Cândido disse: menino, tu ainda estás aqui? Então ele disse que eu tinha sido sorteado. Eu perguntei: como é que você sabe disso? Ele disse: tá ali na lista. Eu fui mais ele e vi o meu nome na lista. Era para eu me apresentar de manhã para depois se não passava a submisso. Transporte não tinha.
JU: Como o senhor foi?
CHICO BEATO: Transporte não tinha naquele tempo. Então eu fui de pés. Eu saí à meia-noite. Quando foi 6:30 eu tava em Campo Grande. Era para falar com um homem e receber 20 mil réis e uma ordem para pegar o trem em Angicos
Cheguei aqui de tardezinha, cansado.
JU: E a viagem para Angicos?
CHICO BEATO: No outro dia eu fui dormir lá embaixo. Chegando lá tinha uns companheiros e fomos para Zé da Volta. Chegando contamos a ele que tínhamos sido sorteados e ele perguntou em que era que a gente ia. Eu perguntei: E aqui não passa carrro não? Ele disse que só passava um. Dias ele vem e dias não vem. Aí disse: pois tá bom. Se eu pegar um dia que ele não vem... Mas quando foi a hora o carro apareceu e deu certo a gente ir.
JU: Como foi a chegada em Angicos?
CHICO BEATO: Nós Chegamos de tardezinha e ficamos esperando a ordem, mas nós não tínhamos onde dormir. O trem só saía no outro dia. Aí eu fui pedir ao chefe do trem para dormir dentro dele. Ele disse: pois não, fique à vontade. O trem saiu no outro dia de 5 horas da manhã. Quando chegou a tardinha nós chegamos à Natal.
JU: E em Natal?
CHICO BEATO: Chegando em Natal já tinha um homem esperando para levar a gente para Santos Reis.
JU: Como era a vida no quartel?
CHICO BEATO: Assim que chegamos, tinha um sargento que ficou chateando dizendo que a gente ia sofrer muito, que não tinha roupa, que não ia existir lugar pra dormir. Quando foi no outro dia às 5 horas da manhã tocou o rancho e nós não sabíamos o que era. Naquele momento um de nós disse: esse povo que está se juntando vai para onde? Vamos atrás deles. Logo descobrimos que era para tomar café. Depois eu fui para o anti-aéreo. Lá nós ficamos até quando saímos. Eu não saí de Natal não. Fiquei só guarnecendo as praias.
JU: Qual era sua função lá?
CHICO BEATO: Eu era servente de projetor. Aquele bicho que lumeia o céu, isto é, um refletor. Sempre trabalhei naquilo.
JU: O senhor nunca saiu de Natal?
CHICO BEATO: Não. Fui escalado uma vez para ir para a Itália, mas não deu certo. Fui escalado outra vez para Fernando de Noronha. Também não deu certo. Tinha uns paulistas que choravam com medo de ir. Quando deu 8 da noite chegou a ordem para a gente não ir mais
JU: Como era a convivência no quartel?
CHICO BEATO: Lá tinham muitas brincadeiras: um desfazia do outro. Um dia pegamos um Tejo. Os nortistas disseram que na terra deles aquilo era um lagarto. Então um disse: na terra que um Tejo se chama lagarto eu não moro. Aí eles responderam: e vocês que dormem dependurados? (que era na rede).
JU: O Senhor tem encontrado com muitos ex-combatentes?
CHICO BEATO: Alguns. Outro dia eu fui a Natal e encontrei com um sargento que se chamava Trigueiro. Ele me deu um abraço e disse-me que não esperava mais encontrar-se com esse povo. Outro dia eu encontrei com um capitão. Ele disse: eu não tenho fé quando vejo esse povo porque é muito difícil encontrar um.
JU: O senhor sempre gostou de desfilar no dia 7 de setembro?
CHICO BEATO: Sim. Eu sempre ia também aqui a Mossoró, mas só tinha eu e Chico Miguel que ia. Ele disse que não ia, mas que não podia. Então eu deixei de ir. Eu acho muito importante esses desfiles, mas eu deixei de ir.
JU: No período em que o senhor esteve em Natal o senhor se comunicava com a família.
CHICO BEATO: Sim, eu sempre escrevia. Todos os meses eu escrevia para minha família e eles respondiam. Só era muito difícil porque ninguém sabia ler ou escrever.
JU: Qual sua palavra final?
CHICO BEATO: Foi uma experiência boa. Fui feliz e voltei. Hoje estou por aqui. Não sei quantos dias vivo. Estou muito satisfeito, graças a Deus.
CHICO BEATO: Sim, eu morava ali na Bo’água.
JU: Como o senhor soube da convocação para a Segunda Guerra Mundial?
CHICO BEATO: Era sorteado, mas eu não sabia. Então um dia, quando eu vim para a rua (zona urbana), Raimundo Cândido disse: menino, tu ainda estás aqui? Então ele disse que eu tinha sido sorteado. Eu perguntei: como é que você sabe disso? Ele disse: tá ali na lista. Eu fui mais ele e vi o meu nome na lista. Era para eu me apresentar de manhã para depois se não passava a submisso. Transporte não tinha.
JU: Como o senhor foi?
CHICO BEATO: Transporte não tinha naquele tempo. Então eu fui de pés. Eu saí à meia-noite. Quando foi 6:30 eu tava em Campo Grande. Era para falar com um homem e receber 20 mil réis e uma ordem para pegar o trem em Angicos
Cheguei aqui de tardezinha, cansado.
JU: E a viagem para Angicos?
CHICO BEATO: No outro dia eu fui dormir lá embaixo. Chegando lá tinha uns companheiros e fomos para Zé da Volta. Chegando contamos a ele que tínhamos sido sorteados e ele perguntou em que era que a gente ia. Eu perguntei: E aqui não passa carrro não? Ele disse que só passava um. Dias ele vem e dias não vem. Aí disse: pois tá bom. Se eu pegar um dia que ele não vem... Mas quando foi a hora o carro apareceu e deu certo a gente ir.
JU: Como foi a chegada em Angicos?
CHICO BEATO: Nós Chegamos de tardezinha e ficamos esperando a ordem, mas nós não tínhamos onde dormir. O trem só saía no outro dia. Aí eu fui pedir ao chefe do trem para dormir dentro dele. Ele disse: pois não, fique à vontade. O trem saiu no outro dia de 5 horas da manhã. Quando chegou a tardinha nós chegamos à Natal.
JU: E em Natal?
CHICO BEATO: Chegando em Natal já tinha um homem esperando para levar a gente para Santos Reis.
JU: Como era a vida no quartel?
CHICO BEATO: Assim que chegamos, tinha um sargento que ficou chateando dizendo que a gente ia sofrer muito, que não tinha roupa, que não ia existir lugar pra dormir. Quando foi no outro dia às 5 horas da manhã tocou o rancho e nós não sabíamos o que era. Naquele momento um de nós disse: esse povo que está se juntando vai para onde? Vamos atrás deles. Logo descobrimos que era para tomar café. Depois eu fui para o anti-aéreo. Lá nós ficamos até quando saímos. Eu não saí de Natal não. Fiquei só guarnecendo as praias.
JU: Qual era sua função lá?
CHICO BEATO: Eu era servente de projetor. Aquele bicho que lumeia o céu, isto é, um refletor. Sempre trabalhei naquilo.
JU: O senhor nunca saiu de Natal?
CHICO BEATO: Não. Fui escalado uma vez para ir para a Itália, mas não deu certo. Fui escalado outra vez para Fernando de Noronha. Também não deu certo. Tinha uns paulistas que choravam com medo de ir. Quando deu 8 da noite chegou a ordem para a gente não ir mais
JU: Como era a convivência no quartel?
CHICO BEATO: Lá tinham muitas brincadeiras: um desfazia do outro. Um dia pegamos um Tejo. Os nortistas disseram que na terra deles aquilo era um lagarto. Então um disse: na terra que um Tejo se chama lagarto eu não moro. Aí eles responderam: e vocês que dormem dependurados? (que era na rede).
JU: O Senhor tem encontrado com muitos ex-combatentes?
CHICO BEATO: Alguns. Outro dia eu fui a Natal e encontrei com um sargento que se chamava Trigueiro. Ele me deu um abraço e disse-me que não esperava mais encontrar-se com esse povo. Outro dia eu encontrei com um capitão. Ele disse: eu não tenho fé quando vejo esse povo porque é muito difícil encontrar um.
JU: O senhor sempre gostou de desfilar no dia 7 de setembro?
CHICO BEATO: Sim. Eu sempre ia também aqui a Mossoró, mas só tinha eu e Chico Miguel que ia. Ele disse que não ia, mas que não podia. Então eu deixei de ir. Eu acho muito importante esses desfiles, mas eu deixei de ir.
JU: No período em que o senhor esteve em Natal o senhor se comunicava com a família.
CHICO BEATO: Sim, eu sempre escrevia. Todos os meses eu escrevia para minha família e eles respondiam. Só era muito difícil porque ninguém sabia ler ou escrever.
JU: Qual sua palavra final?
CHICO BEATO: Foi uma experiência boa. Fui feliz e voltei. Hoje estou por aqui. Não sei quantos dias vivo. Estou muito satisfeito, graças a Deus.