quinta-feira, 4 de outubro de 2007

ENTREVISTA COM DONA MARIA ROMANA

JORNAL DE UPANEMA– Por que a senhora tem esse nome Maria Romana?
MARIA ROMANA – Pelo simples fato de minha mãe chamar-se Romana, mas eu não tenho nada a ver com esse nome Romana. O nome dela era Romana e o povo chegava e chamava Maria Romana. Aqui em Upanema tem tanta gente que não sabe que meu nome é Maria Batista de Medeiros. Batista, do meu pai e Medeiros, de minha mãe. O nome do meu pai era Joaquim Batista dos Santos e da minha mãe, Romana Maria de Medeiros. Um dia Cirilo estava num banco e perguntou a uma pessoa: cadê Maria Romana e onde é que ela mora que eu tenho que falar com ela? Responderam: aqui não mora essa pessoa, não. Aí ele disse: é Dona Maria do hotel. É porque o nome dela é Maria Batista de Medeiros. O pessoal só me conhece por Maria Romana.
JU – Nosso objetivo é pegar os fatos de Upanema e publicar no jornal. O empreendimento (o Hotel Central) aqui tem mais de quarenta anos, não é? MR – Na verdade eu vim pra cá numa seca grande e meu pai veio pra o gado escapar. Lá não tinha recurso, por isso foi preciso meu pai vir. JU – Onde a senhora morava?MR – Antes, na Cacimba do Meio, hoje, terra de Eduardo. De lá meu pai disse: se não for pra o Seridó, queria ir para o Seridó a pé. Eu disse que queria ir pra minha terra e não ficar aqui. Quando foi um dia minha mãe disse: minha filha, vou fazer o seguinte: vá embora que ele tem coragem de sair daqui a pé. Eu disse: mamãe, aqui a senhora cria tanta galinha, tanto porco e a senhora querer voltar pra acolá.!JU – De qual cidade do Seridó vocês vieram?MR - Vim de Florânia. Nós somos todos de lá. Nós morávamos no sítio e criavamos gado, criação de ovelha e tudo no mundo. Devido à seca, viemos pra cá, como já disse, pra escapar o gado de meu pai e meu tio.JU – E como surgiu a idéia de trabalhar em hotel?MR – Fui trabalhar em Maroquinha, e toda vida eu tive habilidade em cozinhar. Maroquinha nunca achava uma pessoa que servisse, aí eu disse: Maroquinha, se você quer, vou trabalhar. Ela disse: mulher, você vem? Eu disse: vou. Assim, passei seis anos lá no hotel, mais com trinta e tantos que eu passei aqui, dá quarenta e dois anos. Todos gostavam de mim. Teve uma vez que houve uma festa e uma colega de trabalho estava servindo mal os clientes. Então reclamei e ela não gostou. Ora, se as pessoas estão pagando, deve ser servido bem.JU - Como tudo começou?MR - Tudo começou quando um dia eu disse a seu Augusto Pinheiro que eu desejava alugar um quarto. Ele alugou um quarto dele pra mim. JU - No primeiro mês deu certo?MR - Deu certo. Foi preciso fazer uma puxada, porque tinha muitos clientes. Fizemos a puxada e colocávamos três mesas. Depois ele fez uma cozinha para ampliar o espaço. Uma vez o pessoal estava comendo feijão com ovos. Raimundo Cândido viu aquilo e perguntou: é semana santa? Respondi: não. É porque estou deixando essa carne para amanhã para uns fregueses de Caicó. Vejam: a vida no começo foi difícil.JU - E devagarinho o hotel foi melhorando...MR - Sim. Foi com a ajuda de Dr. Amilton, quando me deu uma grande feira, que as coisas melhoraram. JU - A senhora deve ter vista muita coisa interessante ao longo desses anos. Conte uma.MR - Uma vez contaram a Dr. João André que eu estava maluca. Ele veio me ver para contar de certo. Mentira. Eu estava em perfeita saúde.JU - Fale sobre o hóspede Jaime Americano.MR - Ele morou aqui mais de dois anos. Fazia plantio. Se você tinha um terreno, só era. Chamar. Não tinha fé. Ele fez um plantio pra mim de cenoura, alface, tomate, pimentão.JU - Quando ele chegou veio direto pra o hotel da senhora?MR - Sim, veio.JU - Além de Jaime, quem morou aqui mais tempo?MR - Dr. Amilton morou aqui, mas por pouco tempo. Também morou aqui o Dr. Carlos.JU - E a sucessão aqui no hotel? Será Nilba?MR - Eu digo: Nilba, você já se aposentou, pode assumir isso aqui. Ela um dia disse: Deus me defenda. Já vim de um aperreio e vir pra outro.JU - A senhora hoje só acompanha ou ainda cozinha?MR - Sim. Mas às vezes não me agüento e vou cozinhar.JU - Em média quantas pessoas almoçam?MR - Às vezes são 50, 60, 70 e até 80 pessoas. Os dias que têm pouca gente é no sábado e domingo.JU - Quantas empresas que prestam serviço a Petrobras vêm aqui diariamente.?MR - São cinco empresas.JU - O que as pessoas dizem da comida?MR - Um engenheiro da estrada de Pernambuco disse que adora minha comida. Anda por todo mundo e nunca viu uma igual a daqui. Ele disse que “comida boa não é botar o céu com a lua e as estrelas. O que vale é saber temperar.”JU - A senhora fez alguns cursos de culinária?MR - Fiz. Um curso que Luiz Cândido Bezerra (ex-prefeito) trouxe. JU - Além das coisas boas, a senhora deve ter sido enganada por alguém.MR - Sim. O pessoal de uma banda se hospedou, jantou, tomou refrigerante. De manhã disse que não tinha dinheiro. Eram 35 pessoas. Deram o endereço, o telefone. Até hoje não pagaram ainda.JU - Hoje em dia a senhora se sente mais confortável do que no passado?MR- Claro que é hoje. JU - Deixe alguma frase para os leitores do JU:MR - Vim morar aqui em Upanema e achei tão bom que fiquei aqui morando. Gosto de todo mundo de Upanema como se fosse minha própria cidade. Às vezes volto à minha terra natal para as festividades de lá.
Fonte: Jornal de Upanema

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