sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Tempos de escola: Maria José

Nasci em Upanema no sítio Fazenda Nova, filha de Damião Alexandre de Oliveira e Maria Carlos de Oliveira (in memorian), menina fui como outras meninas da Fazenda Nova, Pereiros, enfim de Upanema.

Foi uma infância com preocupações ilimitadas, fez com que os meus pais dessem aos seus filhos uma educação quase que rigorosa. Minha história é um pouco longa, mas me orgulho em descrever, se não toda história, mas uma parte. Pois bem, aos 7 anos de idade, minha mãe apesar de nunca ter freqüentado uma escola, sabia ler e escrever, uma inteligência extraordinária, comprou uma carta de ABC e uma tabuada, foi ensinando as vogais, o alfabeto, a soletrar palavras, e lembro-me que aprendia cantando, assim: ba-babá, be-bebé e assim por diante, da mesma maneira a tabuada e assim fui alfabetizada. Durante décadas nosso aprendizado permaneceu focado em ler e escrever, calcular, ou seja, memorizar. Assim não foi preciso cursar a 1ª série, logo fui matriculada na 2ª série, na Escola Reunida Professor Alfredo Simonetti e a 4ª série com a professora Aldezira Cabral onde foi também diretora da referida escola, só depois foi reconhecida como Escola Estadual Professor Alfredo Simonetti. Foi muito difícil a caminhada, pois naquela época, quem morava na zona rural, para estudar na cidade exigia disposição, força de vontade e equivalentes num passado, que precisava capacitar se determinar o desejo de realizar uma viagem no exterior.

Se não vejamos: para iniciar a minha trajetória de estudante na cidade era preciso estar por dentro da hora para não chegar à escola atrasada, como se não tínhamos relógio? Mas Deus fez nascer um pé de juazeiro no cercado onde plantava milho, feijão, etc. e sua sombra nos dizia que já era hora de ir pra casa e quando chegávamos em casa, uma sombra da cozinha já mostrava que estava na hora, 11 horas, mamãe mandava tomar banho, almoçar e se preparar pra ir a escola. Enfrentava o sol causticante, a pé ou em um jumentinho por nome roxinho, muitas vezes de bolso liso, sem nenhum tostão, quando às vezes levava quinhentos réis para comprar sequilho, alfenim ou cocada, feito pela saudosa Mercês.

O material escolar, os cadernos, minha mãe fazia de papel de embrulho, costurado na máquina, isso pra matemática, e para outras disciplinas de papel almaço, feito também o caderno costurado na máquina e ainda fabricava a mochila para condução do material. Uma época de muitas dificuldades, porém, época onde existia respeito, obediência aos professores, patriotismo, quando as quintas-feiras era hasteada a Bandeira do Brasil e cantado o Hino Nacional, e acrescentar que na quinta-feira existia o argumento, saber quem estava preparado para competição de matemática, e triste daquele pobre aluno que não acertasse, era penalizado por aquele colega que acertasse com bolo de palmatória. Outra situação difícil era quando no inverno enfrentávamos as águas de riachos e córregos, muitas das vezes precisando atravessá-los de canoa. Mas nunca desanimei, sempre fui perseverante, vontade em abraçar os estudos, não importando e nem me preocupando em enfrentar os desafios.

Foi assim na meninice, enquanto outras meninas se dirigiam para o lazer, tinham bonecas, eu, meus irmãos e aqueles que tinham a mesma faixa etária, íamos para a roça para aprendermos no chão upanemense a fazer agricultura, plantar, colher, mas conscientes que tínhamos que estudar. Nossos pais, com seu jeito simples de conversar, com gestos humildes, transmitiam para nós, é claro que com palavras diferentes, mas da mesma conotação, o que dizia o slogan de Djalma Maranhão: “de pé no chão também se aprende a ler”. Não desanimem, o trabalho, as dificuldades, se faz necessário, mesmo cansativo quando se visa um ideal. E confesso, minha disposição para os afazeres de casa, plantar, apanhar feijão e algodão, não era meu dom e para felicidade minha, meus tios padrinhos, Vicente e Neném Rocha que moravam na cidade me convidaram para morar com eles. Claro que fui e me livrei daqueles afazeres para mim cansativos. Terminei o ensino fundamental e até hoje guardo na memória, no coração, o quanto foram importantes na minha vida. Mas, não queria ficar apenas com o primário, tudo o que eu via era a visão de uma cidade maior que a minha, onde existisse o colegial, normal, a minha imaginação, no momento se fixava em procurar idéias que pudessem clarear a minha mente em me orientar como eu deveria fazer, qual o cuidado ativo que deveria me capacitar no sentido de dar continuidade aos estudos e de repente Deus iluminou, mesmo sabendo do preconceito que reinava em nosso meio quando uma moça não devia sair para estudar em outra cidade, mas com certeza já nasci com instinto de que mulher não é só para serviços caseiros, ser esposa, mãe, era também para trabalhar em outras atividades, mulher também é para exercer outras profissões, igual aos homens. Tinha um tio residente em Macau, chamava-se Manoel Gonçalves de Oliveira e um pensamento forte me tocou e fiz Macau. Ele prontamente me atendeu e veio pessoalmente convencer meus pais. Mas para dar continuidade aos estudos teria que prestar exame de admissão. A princípio me parecia difícil, mas não temi, fiz e passei; realizei em parte meus sonhos, conclui o ginasial. Mas a necessidade que eu tinha de trabalhar me fez com que aceitasse o convite do saudoso João Melo para assumir uma sala de aula no sítio Várzea Alegre e em 1955 fui contratada pela prefeitura de Upanema na gestão do então prefeito Silvestre Veras Barbosa, onde lecionei no sítio Fazenda Nova e assim, passei pela mocidade, porque nela atravessei seus anos.

Em 1958 me casei com Antonio Anízio Bezerra (Anterim – in memoriam), construímos uma família de 5 filhos, que criamos com dificuldades, mas jamais deixaram de estudar, 4 concluíram o curso superior e apenas um fez vestibular mas não concluiu o terceiro grau. Mas com tantas provações em minha vida, ainda tive o prazer de fazer curso a distância. Participei de diversos cursos a distância de promoção educacional. Me qualifiquei e hoje sinto-me feliz e realizada. E um desses motivos foi o destino me haver conduzido ao longo dos anos, de esforçar para atuar no processo educacional na minha terra como professora, diretora da Escola Estadual Alfredo Simonetti, coorenadora, Logos II, Secretária de Educação do Município, não só em Upanema como também na cidade de Patu. Diretora da Casa do Artesão de Mossoró, por quatro mandatos fui vereadora em Upanema, deste presidi a Câmara por oito anos, construindo ininterruptamente, mais de três décadas consecutivas no trato, no manuseio e no preparo da formação moral e educacional da mocidade desses municípios acima citados, colaborando e ajudando, no que permitia e me cumpria fazer dentro do alcance de minhas forças e das minhas condições.

Eis ai um capítulo da minha vida passageira neste mundo, quanta diferença da educação de ontem para a de hoje.

Uma nova educação está batendo as portas das escolas brasileiras, com atraso é verdade. Agora o pensar será privilegiado no lugar do simples memorizar. O discente está antenado 24horas por dia, por todos os meios possíveis graças ao acesso à tecnologia.

Sou agradecida a sorte que tive em vencer todas as etapas por uma vida melhor.
Finalizo agradecendo a nosso Salvador Jesus Cristo, para que a educação brasileira forme pessoas mais preparadas para a vida e resulte em uma nação cada vez melhor.
Obrigada meu Deus, obrigada meus pais, meus filhos, familiares e amigos.
Publicado na edição 68 do Jornal de Upanema

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