domingo, 6 de abril de 2008

ENTREVISTA: AMARILDO MARTINS

O ex-prefeito Amarildo Martins conta como está sendo sua vida depois que deixou a prefeitura, fala sobre momentos difíceis que passou, além de esclarecer fatos que ocorreram em seu mandato.


Jornal de Upanema – Como surgiu seu interesse pela política?
Amarildo Martins – Na verdade eu não tinha interesse na política. Foi uma questão do grupo político, de Valério, e de certa forma eu entrei por questão de acomodação do grupo. Mas, na verdade eu nunca tive vontade de participar da vida pública. Eu costumo dizer pra todos que eu era mais feliz quando era professor. Foi uma experiência diferente, se bem que toda experiência é boa. Você tenta dar o melhor mesmo errando, como foi o meu caso. Eu procurei dar o melhor e errei como todos erram. Em momento algum errei de forma proposital pra prejudicar alguém. Errei por questão de falta de experiência, alguma coisa nesse sentido, no caso a experiência de administrar.



JU – O que o senhor destacaria no seu mandato?
AM – No meu mandato eu procurei ver a questão do funcionário, para que ele pudesse receber um salário mais digno. Na época em Upanema eu consegui igualar ao salário-mínimo o salário do funcionalismo público. Essa era minha maior e única intenção. Procurei melhorar em alguns setores mesmo diante de algumas dificuldades que o município passava.



JU – O senhor acredita que naquele tempo passava mais dificuldade do que hoje?
AM – Eu acho que é proporcional à época. Todos eles passam por dificuldades, mesmo o município tendo uma arrecadação melhor, porque à medida que o município vai se desenvolvendo, mais despesas vai gerando. Eu acho que construir uma coisa às vezes se torna mais fácil. O difícil é manter essas obras funcionar e o que já vem funcionando.



JU – O senhor foi cassado em 1999, quando na teoria tinha votos pra se manter no poder. O senhor acha que saiu do poder porque foi traído por alguém?
AM – Não. Eu acho que o que houve foi uma falta de conversa, algumas pressões em cima de alguns vereadores para que isso pudesse acontecer. E como eu já tinha em mente sair da política, porque tinha entrado sem querer, sem ter afinidade, eu preferi deixar de lado. O que eu estou dizendo aqui, alguns vereadores da época sabem. Eu deixei eles livres para votarem de acordo com a consciência. Não teve nenhum tipo de pressão, não fiz nenhum tipo de chantagem, de maneira alguma. Eu deixei eles à vontade para votarem. A gente se sente traído porque está na política. Então eu achei que faltou o contato e faltou sim, por parte de pessoas que votaram em mim. Faltou eu ter conversado mais com eles, e eu não usei o poder pra fazer pressão.



JU – Quais os principais problemas que o senhor enfrentou na Prefeitura Municipal de Upanema?
AM – O principal problema que enfrentei foi a questão dos recursos. Eu participei de uma administração na qual eu fui adversário do governo do Estado. Então, quando se é adversário do governo do Estado, se tem algumas retaliações ao município. Isso foi comigo e será com qualquer outro que venha a administrar. Então, acho que a dificuldade maior foi da falta de recurso, de investimento do governo do Estado em parceria com a prefeitura que facilitaria mais as melhorias do município.



JU – Se o senhor pudesse voltar o tempo, o que o senhor mudaria em sua administração?
AM – Se eu pudesse voltar, digamos que eu mudaria a organização. Mudaria a questão administrativa, a gestão de uma maneira geral e eu procuraria ser mais organizado. Eu assumo que fui desorganizado. Eu discordo de algumas pessoas que na época me chamavam de corruptos e chegavam até a me chamar de ladrão. Eu tenho minha consciência tranqüila. Assumo minhas responsabilidades. Todos os atos da prefeitura eu não acuso nenhum secretário. Eu não fui desonesto. Só fui desorganizado e assumo todas elas.



JU – O senhor não acha que confiou demais nos outros?
AM –Confiei. Confiei demais nas pessoas e dei um espaço para que as elas tivessem liberdade. Quando tinha coisas boas, aí as pessoas eram que tinham feito, e quando era ruim, a culpa era do prefeito. Eu tenho minha culpa de não ter assumido. Eu costumo dizer que não tive pulso pra dizer: foi bom, fui eu, foi ruim, fui eu. Essa é a palavra correta. Eu abri mão no início e não tive pulso. E pra pegar depois fica difícil.



JU – Amarildo, mesmo morando fora, o senhor tem acompanhado o cenário político upanemense através de jornais?
AM – Eu sempre leio o Jornal de Upanema. Mas falar em política, eu não tenho conversado com ninguém. Eu me afastei da política por motivo de meus problemas e algumas eu concordo e outras não, mas preferi ficar calado.



JU – Como anda o relacionamento do senhor com o seu tio Valério?
AM – O meu relacionamento com ele permanece o mesmo. Politicamente falando, não está existindo porque eu não estou exercendo nenhuma função política no município. Apenas sou um eleitor. Sou um eleitor do PFL, sou um eleitor do senador José Agripino.



JU – O senhor pensa em voltar à vida pública?
AM – Não.



JU – Nenhuma hipótese?
AM – Nenhuma hipótese.



JU – Por que?
AM – Não gostei da experiência de aministrar. Não quero participar de nada, nem da administração de ninguém, e nem assumir nenhuma função pública.



JU – Nem como secretário?
AM – Nem como secretário. Se eu tiver que ajudar em alguma administração pública, eu prefiro ajudar de livre e espontânea vontade sem função nenhuma.



JU – O senhor como ex-prefeito, se fosse candidato a vereador, certamente receberia uma grande votação. Diante disso, o senhor pensa em ser candidato a vereador?
AM – Fui convidado por vários amigos. Pediram-me dizendo que se isso acontecesse, eu teria uma grande votação e que muita gente ainda comenta essas coisas de política, mas eu descarto imediatamente. Eu digo sempre que coincidentemente tem um irmão meu que é pré-candidato, ou seja, está sendo lembrado o nome dele pra ser candidato a prefeito em Apodi. Aí eu digo: rapaz, eu rodei, rodei e quando chego aqui um irmão meu entra na política. Se tivesse alguma cidade que não existisse política, eu ia passar as eleições lá. Às vezes as pessoas lá em Apodi me confundem com ele. Eu passo, então as pessoas falam: Célio, e vai logo perguntando uma coisa, aí falo que sou o Amarildo. E muita gente me pergunta como vai o Célio, e digo que não tenho conversado política com ele.. Eles chegam e falam que vai ter uma reunião e me convidam. Então digo que quando terminar a reunião. Eles dizem e eu ainda acabo me escondendo.



JU – Então isso quer dizer que você não concorda com a candidatura de Célio?
AM – No começo se ele tivesse pedido minha opinião, eu teria dito a ele que se dependesse de mim ele não seria candidato. Pelo o que eu passei, mas ninguém pode fazer uma coisa se baseando pelo o que outra pessoa passou. Até porque eu fui questionado por um amigo meu radialista de Apodi, me dizendo que eu vou ser citado pelos jornais se Célio for candidato. Eu disse a ele que se citarem alguma coisa que toque meu nome, eu responderei todas as indagações e, eu é que tenho que responder tudo que for citado de meu nome, e não meu irmão. E eu não vou defender as coisas que forem citadas que foi ele, porque quem assume as coisas dele é ele e as minhas sou eu. Eu estou procurando não me envolver, porque na realidade a política em Apodi, todos eles são meus amigos. Eu sei que quando chegar a campanha as coisas vão mudar. Então eu sempre tenho procurado fazer a coisa assim. Apesar de eu ter distanciado de algumas pessoas, apesar de serem adversários, mas a inimizade jamais. Inimigo em nenhuma parte do mundo eu tenho.



JU – Com relação ao cenário político estadual, o senhor tem acompanhado?
AM – Não. Eu não tenho acompanhado. Eu vou citar aqui pra vocês o que eu disse na época que Garibaldi foi candidato a reeleição e que ele me chamou pra apóiá-lo. Eu disse a ele que eu era eleitor de José Agripino. E que se José Agripino fosse candidato eu votaria nele. Aí ele me disse assim: mas a gente vai fazer a barragem de Upanema e vou ganhar a eleição. Eu disse: tanto faz quem faça a barragem. Pode ser o senhor ou outro governador, mas eu continuo sendo eleitor de José Agripino. Então o cenário político no Estado eu não tenho acompanhado muito, mas eu vou fazer igual aquele eleitor cego: eu sou eleitor de José Agripino.



JU – Qual o grupo político de Upanema que o senhor pertence? Ainda é o grupo de Valério?
AM – Na realidade eu não me considero pertencente a nenhum dos grupos políticos. Eu pertenço ao PFL, eu sou filiado ao PFL, então sou eleitor do PFL no Estado. No município de Upanema eu não tenho nenhuma vinculação. E lá tem bons candidatos. Só tem uma pessoa que tem lá que eu voto nele por achar ele capaz, apesar de não desmerecendo aos demais. Aliás, tem duas pessoas com as quais eu me identifico muito: José Wilson e Elzimar. Eu não tenho convivido muito com ele, mas sei que é um bom candidato. Manezinho, Celinho. Estão citando Maria Stela e o próprio Luiz Jairo, que é o candidato da oposição. Eu não tenho mágoa política de ninguém, nem pessoal. Eu acho que nós seres humanos devemos fazer nossas obrigações. Votar em quem acha que é o melhor para o município. Eu não fiquei com mágoa de ninguém porque sempre eu procurei separar a política das amizades. Eu acho que essa pergunta eu vou fazer e vou responder. Todas as pessoas de Upanema me perguntam: qual sua relação política com Luiz Jairo? Eu digo: nenhuma. E sua relação pessoal? Pra mim ele continua a mesma coisa que eu tinha com ele antes. Por quê? Porque na época ele tomou uma decisão política quando votou contra mim. Concordo plenamente quando ele quis votar contra mim. Foi uma decisão política dele. Mas nós continuamos nos falando, nos comunicando. Nunca deixei de ser a favor dele em lugar nenhum. Sempre as pessoas ligam pra mim e me perguntam se pode votar em Luiz Jairo. Eu respondo que ele vote em quem ele achar que é o melhor. Muita gente na primeira campanha ligava pra mim perguntando se podia votar em Jorge. Eu dizia que podia votar que não tinha nenhum problema. Então eu acho que a função de Jorge naquela época era essa: oposição. Eu só não gostava de algumas formas que fui citado várias vezes, não sei se a mando de alguém ou por iniciativa própria. Chegavam a me agredir com palavras não diretamente a mim. A única pessoa que me agrediu com palavras diretamente, eu dei a resposta a ele. Não quero citar nome porque eu tenho uma certa amizade com ele. Isso foi só um episódio, mas continuou a nossa amizade. Mas, eu não tenho mágoa de Luiz Jairo de maneira alguma. Acho que ele só tomou uma atitude sem pensar mais. Na política a gente tem os impulsos, tem as pessoas que incentivam, tem as pessoas que querem que a gente faça o contrário. Eu acho que ele tomou uma decisão, não sei se foi do grupo político dele ou se foi iniciativa própria. Eu não tenho nada contra ele, de maneira alguma. Inclusive eu tenho uma filha, em que programei a data do nascimento dela no dia do aniversário de Luiz Jairo, que é no dia 9 de fevereiro. A minha ligação com ele, é uma ligação familiar e que continua ainda. Política não existe. Eu acho que até poderia existir se eu tivesse continuado na política. Porque na política, hoje podemos estar juntos e amanhã separados. Alguém pode até está dizendo que eu estou dizendo isso porque eu estou puxando pro lado político de Jorge Luiz. De maneira nenhuma. Todos os meus amigos são testemunhas de que quando eles me perguntam pra que grupo político eles devam ir, eu digo que eles escolham o que eles acharem melhor. Eu estive na casa de Elzimar no ano passado e ele me falou que o filho dele era pré-candidato a vereador. Eu disse a ele que devia um favor muito grande a ele e atenção que ele tinha por mim, e que se o filho dele fosse candidato a vereador, eu votaria nele, não tenho a menor dúvida. Podem estar dizendo assim: mas tem Valério, tem Rita, que são candidatos? Sim, mas eu posso muito bem arranjar um voto ou pra Valério ou pra Rita. Nessa eleição se ele for candidato meu voto é dele.



JU – Como o senhor avalia a administração do prefeito Jorge Luiz?
AM – Eu não tenho conversado política. Esta está sendo uma das vezes que eu estou conversando sobre política. Eu não tenho conversado em política com ninguém. Sobre a administração de Jorge, eu sempre escuto algumas pessoas, umas elogiando e outras não. Isso é uma questão muitas vezes partidária. Eu não posso emitir minha opinião porque não estou convivendo. Não estou indo frequentemente ao município. Se ele tem uma aceitação boa, como tem no jornal, então parabéns a ele, parabéns ao grupo que está ajudando a administrar. Fico feliz por ele está fazendo, porque muitas vezes a gente quer fazer alguma coisa e não pode, como a gente deveria fazer e não consegue. Se ele está conseguindo atingir esse índice na administração, eu dou parabéns a ele.



JU – Amarildo, recentemente o senhor foi condenado a devolver aos cofres públicos o valor R$ 50.000,00. O senhor ainda tem direito a recorrer? Quais anda esse caso?
AM – Essa resposta hoje eu não tenho condições de dizer porque infelizmente uma das pessoas que me acompanhavam juridicamente, o Dr. José Geraldo, faleceu. Eu perdi duas grandes pessoas que me davam sustentação sobre a questão jurídica. Eram eles quem me davam essas informações. Era Juvenal e agora Dr. José Geraldo. Então agora juridicamente, eu falei até pra alguns colegas que eu perdi um pai. Dr. José Geraldo na realidade pra mim era um pai. Ele não era meu advogado, e sim, meu amigo. Eu ainda não recebi nenhum ofício sobre isso aí, e quando receber eu vou procurar fazer minha defesa.



JU – Existem outras ações na justiça contra o senhor?
AM – Existe. Não sei o número exato, mas existe. Quem coordenava tudo isso era Dr. José Geraldo. Ele tinha todas as informações precisas, tudo arquivado e todo o número de processos que ainda existe.



JU – Amarildo, qual sua ocupação hoje?
AM – Hoje eu continuo dizendo, quando me perguntam, eu gostei tanto da profissão de professor, que eu digo que sou professor. Mas estou desempregado, e hoje não posso ser mais porque eu não terminei minha faculdade. A política me fez até pedir demissão do meu emprego de professor que eu tinha na época da CNEC desde 83 se não me falha a memória, que daqui a alguns anos eu estaria aposentado e bem novinho. E a faculdade eu deixei me envolvendo na política. Isso não justifica. Eu acho que a gente tem tempo pra tudo. Eu acho que era pra ter tido tempo pra faculdade, até porque era à noite. Teria dado um jeito, mas a gente arranja um jeito quando não quer ir, e diz que é porque não tem tempo. Hoje eu estava morando em Pendências, na padaria e me afastei para fazer uma cirurgia. A padaria deixei arrendada e estou em Apodi. Até agora acho que vou ficar em Apodi. Estou tentando ver se dar certo voltar para faculdade e retornar ao curso e terminar a faculdade.



JU – Vai voltar a ser professor?
AM – Depende. Eu desde menino que eu tinha alguns sonhos. Queria ser motorista de caminhão porque tinha um tio que era motorista de caminhão, Adalberto. Outra opção era ser professor ou jogador de futebol. Dessas três eu já fui duas. Só está faltando ser motorista de caminhão. O único empecilho está havendo é minha saúde que não está dando pra sair nas estradas em caminhão. Eu estava conversando recentemente com um colega, que eu sempre tive vontade de possuir um caminhão, e outro carro que eu tinha vontade de possuir era um Opala. Quando eu vivia na política eu não comprava porque eu não queria emprestar a ninguém. Pra mim, era o carro de passear nos domingos. Quando eu estava na padaria, também não, porque no meu carro eu colocava ovo, margarina, açúcar, farinha, tudo dentro dele. Muitas vezes caía ovos dentro, quebrava. Então eu disse que também não queria agora. Quando foi ontem (10 de março), eu comprei meu Opala. Quando foi hoje pela manhã, papai disse: de quem é esse carro? Eu disse que era meu. Aí ele me perguntou: como é que você tem coragem de comprar um carro desses? Nem peças existem mais! Agora meu sonho é comprar um caminhão, e se Deus quiser, eu compro.



JU – Na faculdade o senhor pretende voltar para o curso de Matemática?
AM – Se eu pudesse voltar para o curso de atemática, eu voltava, mas eu fiz re-opção para o curso de Geografia. Dependendo de minha vontade, eu retornaria para o curso de Matemática.



JU – O senhor gostaria de aproveitar o momento para esclarecer alguma coisa?
AM – Não. Na realidade eu quero agradecer a todos de Upanema, aos que me criticaram, aos que me ajudaram, porque eu acho que a crítica deve ser ouvida e analisada. Na política é melhor você parar e observar como ela é construtiva e ouvir os elogios que muitas vezes colocam uma máscara na sua frente. Então a crítica deve ser analisada quando você ver uma crítica fundamentada. Quando você vê uma crítica direcionada a uma pessoa, às vezes por questão familiar ou questão pessoal, eu acho que essa daí não se deve dar muita atenção. É ouvir e tirar o que tem que se aproveitar. Mas eu agradeço a todos, ao grupo que eu participei, Valério, Bezerra e o próprio Luiz Jairo, a Elzimar e a todos. E agradecer também a oposição, na época feita por Jorge, Maria José, por Nonato, que muitas vezes me criticava, mas também me orientava, o próprio Gilvandro, todos eles. Eu digo em todo canto que eu saí da política em Upanema e não saí com nenhum inimigo. Encontrei-me uma vez em Natal com Luiz Jairo e disse a ele que se tivesse alguém doente em Natal, uma informação ou acompanhar um processo, podia telefonar pra mim que eu acompanharia com maior prazer. Depois da política eu vivia em Natal acompanhando os processos. Acompanhei muitos em Apodi de uns professores meus com quem eu estudei em Apodi, por questão de aposentadoria. Eu estava lá e ficava acompanhando esses processos. Isso eu faço pra ele e por qualquer pessoa. Eu digo isso, porque eu não saí com mágoa de ninguém. Digo isso hoje porque eu passei por situações difíceis. Depressões, até questão financeira, espiritual, familiar. Eu costumo dizer que eu fui um cara tão forte porque o que eu passei, calado, conversava pouco, na realidade eu não sei como suportei. Muita gente me pergunta como eu suportei isso. E eu digo que em primeiro lugar foi Deus e em segundo foram minhas duas filhas. Meus filhos, mas quem me ajudou mais foram minhas filhas, porque eu convivia com elas. Principalmente a mais nova. Era ela quem percebia quando eu estava bem e quando estava mau. Ela chegava pra mim e dizia assim: pai, você não está bem. Então me conhecia quando eu entrava em casa. Ela mandava eu sentar pra ela me dar massagem e algumas coisas que ela gostava de fazer. Eu me apeguei tanto a ela que eu não conseguia sair de casa. Depois, quando Argemiro chagava em Natal, me chamava pra sair e acabava descobrindo que eu estava naquela fase. Porque sempre ele e outras pessoas ligavam pra mim e deixava alguma coisa pra eu resolver. Eu sempre procurava alguma coisa pra eu fazer pra ver se eu saía de casa. Comecei a freqüentar a igreja e algumas pessoas começaram a me procurar. E como eu não bebia, não fumava, não gostava de festa, eu acho que foi por isso que eu me prendi mais em casa. E uma das coisas que a psicóloga de minhas filhas perceberam, quando recentemente foi feito um trabalho com ela, a psicóloga disse: Amarildo, Marília, que é a mais velha, durante esse tempo Marília sempre procurou chamar sua atenção. Então hoje ela torce por time diferente dos meus. Era uma forma dela ficar discutindo comigo. Ela pro ABC, eu torço pro América; ela torce pro Corinthians, eu torço pro São Paulo. Então ela procurou uma forma de me atrair para me distrair diante do que eu passava. Tudo delas era pra mim. Então eu passei por esse momento difícil. Muita gente de Upanema, Apodi e muitos amigos meu de Natal, me chamavam a atenção, me procurava pra conversar. Eu posso voltar atrás e dizer que eu não tenho nenhum rancor de ninguém. Hoje eu posso dizer isso, mas no começo eu não podia dizer. Porque eu ainda estava movido pela emoção de ter saído de uma função, de uma administração que eu considero que não foi boa. Pode não ter sido a pior, mas não foi a que eu queria, por falta somente da minha desorganização, da minha falta de pulso.



JU – Amarildo, será que sua história não daria um bom livro?
AM – Eu não escrevo porque teve algumas coisas na política que eu não vou poder relatar. Eu não posso relatar de maneira alguma, jamais, nunca. Então eu não vou iniciar porque vai ter essa parte que eu não posso citar. Eu continuo gostando das pessoas de Upanema. Quando eu vou lá sou muito bem recebido. E quando eu me encontro com alguém de Upanema, pra mim é uma satisfação muito grande. Sempre convido as pessoas para irem a Apodi, para irem almoçar comigo. Casei novamente. E estou levando a vida.



JU – Como o senhor vê essa questão de um jornal em Upanema e uma rádio?
AM – Idéia melhor naquele momento não existia. Foi maravilhoso esse jornal em Upanema. Com relação a rádio na internet, eu quero dizer que eu sou matuto. Quem me ensinou a usar a internet foi a minha filha de oito anos. Ela me dizia que eu era só ir lendo e clicando. Na verdade é. Eu é que não tenho nenhum interesse. Mas eu só sei ligar, ler um jornal e outro, qualquer problema corro logo pra quem está perto de mim, Wendel, Marília, Raquel ou Pedro Paulo. Eu confesso que tive momento que eu me escondia pra não dar essa entrevista. Naquela época eu não tinha condição emocional de falar. Hoje eu já tenho condições de falar algumas coisas. Mas a idéia do jornal foi maravilhosa. Parabéns a todos. Essa é uma opção pra quem mora fora e quem mora em Upanema.



JU – Deixe uma mensagem para os leitores.
AM – A mensagem que eu deixo para os leitores é uma coisa dita por todos: não se aprende sem ler. Não se sabe nada se você não continuar lendo. Então eu acho que ler é a melhor forma de você aprender, socializar, participar de qualquer conversação. Muitas pessoas às vezes me elogiam dizendo que eu sou conhecedor de muitas coisas e eu explico o porquê. É que eu ainda continuo lendo jornal. Então sempre que eu vou pra algum lugar, eu pego um jornal pra eu ler. Eu estando em outro Estado e se não tiver jornal do Rio Grande do Norte, compro o de lá e se não tiver, vou pra internet e leio. Eu acho que não tem coisa melhor do que ler. Então digo para os upanemenses e às pessoas que vão pra internet que continuem lendo o jornal, principalmente nós que somos de Upanema. Temos que ler para sabermos as notícias de Upanema, porque às vezes eu vejo em alguns blogs que puxam pra algum lado. Não deixem de ler. Leiam os dois pra não ficarem dizendo que um puxa pra um lado e outro pra outro lado.Então leiam os dois e façam sua análise. Porque a informação tem que ser dada de um partido, igreja, associação. Leiam todos. Agora eu peguei um ritmo tão grande na padaria, que eu acordo cedo. Quando chegam três horas da manhã, eu estou acordado. Fico por ali bolando, sem ter o que fazer, aí vou pro computador. Fico lendo até amanhecer o dia e depois vou caminhar. Então continuem lendo e pra vocês que fazem o jornal, que continuem dessa forma pra melhor. Procurando atingir todo público, trazer mais leitores. Quando conseguimos melhorar o que estamos fazendo, a gente consegue mais pessoas olhando para o que estamos fazendo.

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