quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS VERSUS DESMATAMENTO

A preservação ambiental está relacionada com diversas áreas do nosso dia-dia. A produção agropecuária é um dos setores que mais usa recursos naturais e, portanto, mais necessita de estratégias que reduzam os efeitos negativos desta produção. Porém, a produção de lixo, a exploração de minérios, a construção de reservatórios de água interrompendo os fluxos e a poluição da industrias são outros exemplos de ocorrências, consideradas necessárias, mas que agridem o meio ambiente e alteram a preservação das espécies. Um dos maiores especialistas brasileiros em fenômenos climáticos, o pesquisador Eneas Salati, cita como um dos maiores dilemas ambientais brasileiro a destruição dos ecossistemas, amplamente preconizado pelo desmatamento. Diz ainda que o aumento de temperatura previsto para terra em 0,6 ºC, parece pouco, mas equivale ao efeito de 10 bombas de Hiroshima por segundo. Tratando especificamente da produção agropecuária, estudo de diversas instituições importantes e respeitadas do nosso país tem apontado para uma substancial melhoria de vida no campo nos últimos anos. O crédito e a política de valorização da agricultura familiar implantada pelas últimas gestões federais e o próprio crescimento do agronegócio brasileiro tem sido decisivo neste aspecto. Porém, o desafio se torna cada vez maior, pois diante de um novo conceito de desenvolvimento e de sociedade sustentável, não basta produzir a qualquer custo, É PRECISO PRODUZIR COM RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL.Mas como alimentar uma população mundial, que se aproxima de 7 bilhões de pessoas, sem agredir o meio ambiente e sem esgotar os recursos naturais? Difícil, porém é preciso perceber que esta possibilidade está nas pequenas ações, principalmente daqueles que acreditam ser possível harmonizar produção e preservação. Na contra-mão desta possibilidade, a maior parte das tecnologias que aumentam a produtividade requer o uso de insumos, produtos químicos e sementes modificadas que esgotam a capacidade do solo e isso vai de encontro a necessidade de preservação dos recursos naturais e da preservação das espécies.Com a notícia recente e categórica da Rede Globo de televisão de que os assentamentos do INCRA são os principais responsáveis pelo desmatamento na região amazônica e pré-amazônica, na visão dos telespectadores esta informação tem um efeito “cascata” para outras regiões do país e muitos passam a olhar os assentamentos locais como responsáveis pelos desequilíbrios ambientais locais. Embora os Projetos de Assentamentos sejam realmente responsáveis por vastas áreas desmatadas, ao aceitar a informação da Globo sem fazer nenhuma análise crítica ou sem até analisar minuciosamente estes números, estamos absolvendo os grandes produtores agrícolas e criadores de gado que realmente são os maiores responsáveis pela devastação da nossa flora, seja na Amazônia ou em qualquer lugar do país. Afinal, mesmo com toda a tecnologia disponível, temos ainda muita dificuldade de aumentar a produção sem abrir novas fronteiras e se usar técnicas que esgotam os solos.Temos bons exemplos, principalmente de agricultores familiares, de como produzir em harmonia com a natureza, sem devastar novas áreas a cada ano e sem exaurir os recursos naturais, principalmente a madeira, porém, são exemplos conquistados a custa de muita disciplina e muito empenho educacional para despertar uma consciência ambiental e social que não é fácil de massificar, ou seja, não é fácil despertar esta consciência ambiental e social entre os milhares de agricultores e grandes produtores, da noite para o dia.Na Chapada do Apodi/RN temos bons exemplos, onde as produções anuais de feijão, milho e algodão ocorrem com sucesso, os animais são alimentados com qualidade e a produção de mel é um destaque. Tudo isso dentro de um sistema onde o manejo da Caatinga é realizado de tal forma que as espécies nativas são preservadas e o solo permanece sempre protegido para evitar erosão e o desgaste excessivo. Outros exemplos são destaque nos municípios do Território Sertão do Apodi, entre eles Upanema, onde a produção vegetal orgânica é uma realidade e diversos agricultores são testemunhas vivas de que é possível produzir sem fazer uso dos produtos sintetizados que tanto desequilibram a natureza e prejudicam o homem.O maior desafio é reduzir a abertura de novas áreas agrícolas, o chamado desmatamento, seja na agricultura familiar ou na grande produção agropecuária, pois mesmo considerando a obediência a Lei Ambiental (4.771 de 1965), que define a obrigatoriedade de preservar 20% da vegetação nativa na nossa região, se a degradação atinge 80% das propriedades, isso representará mudanças consideráveis e, talvez, irreversíveis a qualidade do ambiente.Portanto, fica bastante claro que a preservação ambiental não se faz apenas com Leis que estabelecem os limites do homem na destruição da natureza, é preciso apresentar e apoiar novas alternativas, onde a produção possa ocorrer em harmonia com a necessidade de conservação dos recursos naturais.
Fonte: Jornal de Upanema

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